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legado pontifício em 1922 - 6



Nota biográfica

Sebastião Leite de Vasconcellos nasceu no Porto, na freguesia da Sé, a 3 de Maio de 1852, primeira segunda-feira do mês de Maria, sendo o quarto filho de António Leite de Vasconcellos e de Margarida do Carmo e Cruz. Recebeu o sacramento do Baptismo, na Sé do Porto, a 14 de Maio do mesmo ano. Logo após frequentar o Real Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça, no Porto, e o Colégio de Campolide, em Lisboa, foi admitido, aos dezasseis anos, no Seminário Episcopal da sua diocese de origem, tendo cursado, na qualidade de aluno externo, o triénio teológico, que concluiu com distinção. Recebeu a ordenação sacerdotal, das mãos do futuro Cardeal D. Américo Ferreira dos Santos Silva, na Catedral do Porto, a 15 de Novembro de 1874 e celebrou a primeira Missa, na Igreja de Santo Ildefonso, a 8 de Dezembro do mesmo ano.
 

Exerceu, desde logo, inúmeras funções de responsabilidade na Diocese do Porto, particularmente na Câmara Eclesiástica, como também na Ordem Terceira de S. Francisco, da qual foi Comissário. Leccionou Religião no Colégio Francês do Porto e deu aulas, a título particular, de Português, Francês e Italiano.
 

A sua grande particularidade era a incondicional disponibilidade para falar de Deus e levar o conforto sacramental às almas mais carecidas, sendo presença assídua na Cadeia da Relação do Porto. Inspirado no exemplo salutar de S. João Bosco, com quem contactou, fundou, em 1880, a Oficina de S. José do Porto, que veio a ser instalada, a 4 de Outubro de 1883, festa de S. Francisco de Assis, na R. de Trás da Sé, transferida posteriormente para a R. de Alexandre Herculano. A sua benemérita iniciativa estender-se-ia a todo o país, merecendo a admiração e o apoio dos mais vastos sectores da sociedade. Ainda ajudou a erigir, na sua cidade, a Associação das Escolas de Jesus, Maria, José, instituição centenária em funcionamento.
 

A 1 de Agosto de 1907, quando já havia regenerado cerca de sete centenas de jovens na sua Oficina, é eleito Bispo de Beja, sucedendo a D. António de Sousa Monteiro. Recebeu a sagração episcopal, sendo sagrante D. António José de Sousa Barroso, na Sé do Porto, a 2 de Fevereiro de 1908, entrando solenemente na diocese pacense a 11 de Março seguinte. Os pouco mais de dois anos em que permaneceu em Beja foram impetuosos e repartidos entre a reorganização do Seminário de S. Sisenando, a criação de beneméritas iniciativas de apoio aos mais carecidos, as constantes visitas às paróquias da sua circunscrição eclesiástica e o combate acérrimo às ideias subversivas que se iam difundindo. Com a implantação da república e após uma descomedida campanha difamatória, muito devendo-se ao afastamento dos dissolutos irmãos Ançã dos cargos que ocupavam na Diocese de Beja, é forçado ao exílio, tendo-se primeiramente instalado em Sevilha, depois em Lourdes e, a pedido de S. Pio X, em Roma, onde continuou a acolher muitos peregrinos portugueses e a oferecer as suas orações pelo Portugal que nunca esqueceu.
 

Foi feito Prelado Assistente ao Sólio Pontifício, Conde Romano e Arcebispo de Damieta, por vontade do Papa Bento XV, e, já no pontificado de Pio XI, foi Legado Pontifício à América do Sul. Contribuiu sobremaneira para a beatificação do Santo Condestável, de quem era devoto. Fiel à celebração do Santo Sacrifício da Missa e dedicado a venerar a Santíssima Virgem Maria, fez da sua vida uma lídima oblação agradável ao Pai.
 

D. Sebastião Leite de Vasconcellos faleceu santamente em Roma, no Colégio Pio Latino-Americano, na madrugada de 29 de Janeiro de 1923, contando sete décadas de vida, perto de meio século de sacerdócio e doze anos de desterro. Os seus restos mortais foram trasladados para o Porto, tendo sido celebradas exéquias solenes na Sé, e repousam no Cemitério do Prado do Repouso. Foi um intrépido Apóstolo Bondade em todos os lugares por onde passou e deixou marcas inapagáveis naqueles com quem se cruzou. A generosa entrega deste servo bom e fiel faz-nos cantar como o salmista: «Senhor, como são magníficas as Vossas obras e profundos os Vossos desígnios!» (Sl 92, 6).

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